Eu voltei a ler
Senta aqui, hoje eu vou te servir um bolo de cenoura com chocolate, minha especialidade para esse primeiro café nosso.
Falando nele, aproveita e pega sua xícara, acabei de passar.
Então, deixa eu te contar, enquanto você degusta o bolinho.
Fiquei mais triste na semana entre o Natal e o Ano Novo de 2024. Uma mudança inesperada se deu no meu trabalho, algumas preocupações e eu caí em um choro angustiado.
Nada de anormal ficar assim de vez em quando, não é mesmo?
Os meses passaram, fiz uma adaptação na rotina e parece que as coisas se encaixaram. Fevereiro, apesar de um mês curto, passou com todas as minhas tarefas de trabalho feitas. Nem parecia a mesma pessoa desanimada em janeiro.
O que eu não sabia é que uma rotina frenética como foi no segundo mês do ano, pré feriado de carnaval, não deixa você pensar.
Aí a gente só faz, faz, faz, sem sentir absolutamente nada.
Sabe quando uma barragem se rompe e a água vai passando com a força mais impiedosa existente, levando casa, terra, coisas e tudo o que vê pela frente?
Março foi assim, me levou. Não tinha força que me fizesse nadar contra aquela correnteza vinda de um monte de sentimentos presos.
Ao ser inundada, eu chorei sem pensar. Chorei em reuniões, chorei na minha cama, chorei na aula de dança, chorei fazendo bolos.
Como uma receita que dá errado, tudo estava se perdendo em um emaranhado de pensamentos e sentimentos. Foi quando um médico me avaliou e pediu que eu me afastasse daquela rotina permeada por pressões (internas e externas), vazios, cobranças, solidão, relatórios, exaustão.
Tão exausta que meu primeiro dia de repouso, era como se meu corpo sentisse um resfriado forte. Dores no corpo, desânimo, dor de cabeça, sonolência. Foi um dia sem funcionar.
No meio desses dias “não-funcionantes” - perceba que não disse funcional e sim, “funcionante”, porque não é preciso fazer algo ou ter serventia para ser alguém, embora minha cabeça às vezes me diz que sim - eu recebi um presente, ou melhor, três.
Três livros chegaram em minha casa. Quando o interfone tocou eu já sabia do que se tratava o pacote, fui avisada para estar em casa e recebê-los.
Recebi de uma amiga muito querida, que me garantiu que ler qualquer coisa que não fosse um livro técnico sobre carreira ou desenvolvimento pessoal, me faria bem.
E assim o fiz.
Eu li um livro completo.
Eu li um livro completo e não técnico.
Eu li uma história que me deu permissão para simplesmente ler e sentir.
Fiquei maravilhada com o prazer que voltei a sentir, um prazer que estava guardado lá no fundo, intocado.
Eu voltei a ler.
E isso tem me salvado.
Como estava o bolo? Leva um pedaço para amanhã!
Aí quando puder, traz meu pote de volta e conversamos mais.